quinta-feira, 26 de abril de 2012

O papel dos imigrantes no desenvolvimento empresarial e na promoção das exportações



aqui fizemos referência à relevância que é dada pelas autoridades irlandesas à sua Diáspora, nomeadamente à comunidade de origem irlandesa residente nos EUA. Mas desta vez o "Immigrant Council of Ireland", vem chamar a atenção para a relevância económica e empresarial das comunidades imigrantes residentes na Irlanda quer ao nível do mercado interno, enquanto criadores de empresas e geradores de novos negócios, quer ao nível do mercado externo, enquanto  promotores da internacionalização e das exportações, utilizando o conhecimento e os "networks" que dispõem nos seus países de origem. De acordo com Ivan Light, professor na University of California “historically, migrants have been key agents of enterprise, both for the countries from which they come and the countries to which they move. They are well endowed to do the work of linking and integrating economies (...) Quite often, they are bi- or multi-lingual; they develop strong understandings of multiple cultures and business environments; they have international networks; and they can perceive business opportunities that might not be obvious to those not coming from migrant backgrounds.” Denise Charlton, Chief Executive do "Immigrant Council of Ireland", acrescenta que em cidades como Amsterdão (Holanda), Estrasburgo (França) e Viena (Áustria), empresas detidas por imigrantes representam cerca de 40% do volume de negócios realizados pelas empresas nessas cidades, enquanto que em Copenhaga (Dinamarca), Frankfurt (Alemanha) e Zurique (Suíça) este valor é inferior, mas mesmo assim bastante significativo (cerca de 20%). Julgo que no caso português, onde constituem primeiras prioridades a criação de emprego e a promoção das exportações e onde existem comunidades imigrantes bastante relevantes oriundas, fundamentalmente, dos PALOP, mas também do Brasil, Ucrânia, Moldávia, entre outras, se justifica uma reflexão aprofundada  sobre o potencial económico e empresarial desta Diáspora.

domingo, 22 de abril de 2012

Será a China capaz de construir marcas globais?


A China é o principal exportador mundial. Durante algum tempo foi perspectivada como "The factory of the world". Mais recentemente como "The market of the world". Durante muito anos, houve uma especial preocupação no Ocidente em analisar o processo de evolução e transformação tecnológica da economia chinesa. Hoje, a atenção está especialmente focada em perceber como é que a China vai utilizar esta capacidade industrial e tecnológica na expansão e  internacionalização das suas empresas e das suas marcas. Ou seja, será que nas próximas décadas marcas como a Lenovo, Huawei ou Haier poderão vir a ter a notoriedade que hoje têm marcas como a Microsoft, Nokia ou HP? Esta é uma questão que tem vindo a ser estudada pelo Institute of Development Studies (University of Sussex), no âmbito do projecto "Global brands from China", tendo a equipa de investigadores, liderada por Lizbeth Navas-Aleman, chegado, até agora, às seguintes conclusões:
"The project focused on firms in the city of Ningbo, in China's two most exported industries: garments and home appliances. It looked at three ways Chinese firms could acquire branding capabilities:
  • Learning by exporting.
  • Learning at home (through domestic markets).
  • Multichain models (combining exports and domestic or regional sales).
Key Findings
  • Domestic firms have brands – Both sectors showed a high use of branding in domestically oriented firms. This was due to a fiercely competitive national market, requiring after-sales services, networks and investment in innovation.
  • The West has less influence over brands than expected – Chinese brands are developing independently from Western buyers and markets, boosted by soaring domestic demand and expanding regional markets.
  • Brands are mostly initiated and grown from within firms – The influence of the founder or the design team was apparent.
  • Firms value branding – The vast majority of firms in both sectors recognise the long-term value of brands, with plans to develop or launch brands over the next three years.
  • Home appliance buyers expect brands – Firms reported pressure from buyers to develop their own brands. In contrast, garment buyers focus on quality, rather than branding."
Veja mais informações sobre este assunto aqui.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Banco Mundial: a tradição cumpriu-se!



Como se tem verificado nos últimos 60 anos, a tradição cumpriu-se! O Banco Mundial vai continuar a ser dirigido por uma personalidade norte-americana e que vai ser, desta vez, Jim Yong Kim (na foto), professor de saúde pública e presidente da Dartmouth University (EUA). Nesta eleição foi derrotada  a candidata nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala, depois da desistência do colombiano Jose Antonio Ocampo . Ou seja, o bloco EUA/Europa que controla mais de metade dos votos necessários para a eleição do Presidente do Banco Mundial continua a impor as suas regras, não restando alternativa às economias emergentes do que apresentar os seus candidatos, esperando um dia romper esta tradição. Nestas alturas, surge novamente em debate a questão da necessidade de reforma das instituições de Bretton Woods, criadas num contexto histórico e económico que já tem muito pouco a ver com a realidade de hoje. Será que algum dia as economias emergentes vão conseguir impor essas reformas?

domingo, 15 de abril de 2012

A (nova) diplomacia económica e comercial espanhola e as campanhas de imagem-país

Em Espanha, o governo saído das últimas eleições continua a apostar no reforço da diplomacia económica e comercial, desta vez sob a liderança do Ministro das Relações Exteriores e Cooperação, José Manuel García-Margallo. O ministro espanhol numa intervenção recente referiu que pretende implementar, entre outras medidas, acções de formação em comércio externo dirigidas a diplomatas e duplicar "la potencia de fuego comercial" da acção externa espanhola, questionando o facto de não existirem adidos comerciais/conselheiros comerciais em 47 embaixadas e 54 consulados de Espanha. Acrescentou ainda que uma outra prioridade passa pelo relançamento da promoção da marca "Espanha", pois a percepção externa do seu país no exterior não reflecte o estado actual e o potencial da economia espanhola. Neste último caso, a linha de argumentação é simples e causal: o Estado  realiza campanhas de promoção da imagem do país no exterior;  a notoriedade do país é melhorada; as empresas que têm ou pretendem ter actividade internacional vão sair beneficiadas desta imagem reforçada do seu país de origem.

Em relação a este tipo de campanhas de "imagem país", geralmente com custos bastante elevados, julgo que os resultados têm ficado muito aquém dos esperados,  sobretudo quando estas acções são realizadas por países desenvolvidos, como é o caso de Espanha. Creio que o que pode melhorar efectivamente a imagem e a notoriedade de um país no estrangeiro é o dinamismo, protagonismo e a expansão internacional de empresas e instituições de referência. Para o caso espanhol, a imagem actual imagem do país tem beneficiado bastante da actividade no exterior de empresas e instituições como a Telefónica, Banco Santander, BBVA, Zara, Repsol, Iese, Esade, Real Madrid, FC Barcelona, Abertis, entre outras. Neste sentido, e existindo uma preocupação em melhorar a imagem externa de determinado país, parece-me que os esforços governamentais e institucionais devem focar-se, fundamentalmente, no apoio directo às empresas e às suas marcas no seu processo de internacionalização, criando condições para que estas aumentem a sua competitividade, alarguem a sua intervenção e se tornem verdadeiros "campeões globais".

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Entrevista da Embaixadora Margarida Figueiredo ao jornal "Público"


Margarida Figueiredo foi a primeira Embaixadora "full rank" portuguesa, juntamente com Ana Martinho, e a primeira mulher licenciada a entrar no Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE). Foi uma grande Embaixadora de Portugal na Polónia. Em Varsóvia, liderou uma excelente equipa que tive o privilégio de integrar. O jornal "Expresso" numa reportagem que realizou na altura fez-lhe a seguinte descrição "É uma diplomata atípica. Veste-se informalmente, fuma como um turco e é terrivelmente eficaz". Reformou-se recentemente do MNE e no passado Domingo, concedeu uma interessante entrevista ao jornal "Público" que pode ler aqui.

O investimento directo estrangeiro em França em 2011: a crise económica não afectou a atractividade externa da economia francesa


A AFII - Agência Francesa para os Investimentos Internacionais (Invest in France) acaba de publicar o seu relatório anual de actividades referente ao ano de 2011 ("Les investissements étrangers créateurs d' emploi en France en 2011"). Trata-se de um excelente documento de acompanhamento da competitividade internacional e da atractividade externa da economia francesa. Do relatório deste ano há reter as seguintes principais conclusões:

"... la France a maintenu son attractivité en 2011: elle a attiré 698 nouveaux investissements étrangers, à l’origine de 27 958 emplois.

Il s’agit du deuxième meilleur résultat, en nombre de projets, enregistré depuis plus de dix ans. Treize décisions d’investissement ont ciblé la France, chaque semaine en moyenne, l’année dernière.

Ces investissements, recensés par l’AFII et les agences régionales de développement économique, sont le fait d’entreprises étrangères de toutes tailles : PME, pour 28% des projets, ETI (34%) et grandes entreprises (39%).

Les sociétés nord-américaines et européennes sont à l’origine de 85% des nouveaux investissements. Les investisseurs étrangers viennent de quarante pays. 60% des projets sont d’origine européenne. Les entreprises venant d’Amérique du Nord comptent pour 25% du total, celles d’Asie pour 11 %.

Quatre pays (l’Allemagne, les Etats-Unis, l’Italie et la Suisse) sont à l’origine de 52 % des nouveaux investissements créateurs d’emploi en France annoncés en 2011.

Les Etats-Unis retrouvent leur position de premier pays d’origine. Avec 149 décisions d’investissement en 2011, contre 139 l’année précédente, les Etats-Unis comptent pour 21% de l’ensemble des nouveaux investissements étrangers créateurs d’emploi. Cette croissance est liée à la forte progression des investissements dans la fonction de production (+ 75% par rapport à 2010), en particulier dans les secteurs des médicaments et biotechnologies appliquées, équipements médicaux, chimie et plasturgie, matériels aéronautiques et ferroviaires.

L’Allemagne occupe la première place européenne, avec 120 projets d’investissement en 2011, en retrait par rapport à 2010. Cette évolution s’explique en partie par un recul des investissements dans les secteurs de l’énergie-recyclage (12 projets en 2011, contre 53 en 2010), en contraste avec les secteurs, toujours dynamiques, des logiciels et prestations informatiques, des machines et équipements mécaniques, des constructeurs automobiles et équipementiers.

Les investissements provenant des pays émergents se maintiennent, avec des origines plus diverses qu’en 2010. Les BRICS assurent 6% de l’ensemble des projets en 2011, contre 4% en 2006, et 1% en 2003.

Parmi les pays émergents, la Chine est à l’origine de 23 projets d’investissement en 2011, qui vont générer près de 700 emplois. L’Inde conserve sa seconde place parmi ces pays, avec 12 décisions d’investissement, tandis que la Russie (5) et le Brésil (4) voient leurs entreprises confirmer leur intérêt pour des implantations en France. Trois entreprises turques ont annoncé de nouveaux investissements en France".

Em síntese, apesar da crise económica, a França continua a ser um destino competitivo e atractivo para o investimento estrangeiro que continua a ter origem, fundamentalmente, nos países da Europa e da América do Norte. Por sua vez, os países emergentes ainda têm um peso pouco relevante enquanto investidores em França, mas esta posição tenderá a alterar-se no curto-médio prazo. Por sua vez,  as operações de investimento directo estrangeiro são realizadas, em termos muito semelhantes, por grandes empresas, algumas delas multinacionais, e por pequenas e médias empresas.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Quem vai ser o próximo Presidente do Banco Mundial?


Começou a corrida à liderança do Banco Mundial (World Bank). Até agora este tem sido um lugar "reservado" aos EUA, no âmbito de um "acordo de cavalheiros" que tem permitido que a liderança do FMI (Fundo Monetário Internacional) seja ocupada por candidatos europeus. Desta vez, e depois do Presidente Obama ter designado Jim Yong Kim, professor de saúde pública e presidente da Dartmouth University (EUA),  como o candidato dos EUA à presidência do Banco Mundial, 11 directores executivos desta instituição internacional, oriundos de economias emergentes ou em vias de desenvolvimento, apresentaram as candidaturas da nigeriana  Ngozi Okonjo-Iweala e do colombiano José Antonio Ocampo (na foto). Joseph Stiglitz faz aqui uma interessante análise sobre o perfil dos vários candidatos. O jornal britânico The Guardian está a promover um inquérito à opinião dos seus leitores sobre este assunto e um conjunto de 100 reputados economistas já subscreveram uma petição defendendo a eleição de José Antonio Ocampo (veja aqui também). Parece haver unanimidade em relação à qualidade dos três candidatos. Resta agora perceber se vingará a tradição e o peso politico e accionista dos EUA e dos países desenvolvidos na instituição, e neste caso Jim Yong Kim será o próximo Presidente do Banco Mundial, ou se será dada uma oportunidade às chamadas economias emergentes para ocuparem um dos postos de internacionais de maior relevo, e aí o Okongo-Iweala e Ocampo disputarão a eleição. Um assunto a acompanhar com atenção.

How important is China as an export market?


Via Financial Times este interessante quadro sobre o peso das exportações para a China, no ano de 2011, num conjunto de países. No âmbito dos BRIC (Brasil, Russia, India e China), o mercado chinês é particularmente relavante para as empresas brasileiras (17,3% das exportações totais), seguidas das empresas indianas (8,8%) e das russas (6,8%). De salientar também, o peso da China nas exportações da Austrália (27,4%). No caso português, as vendas à China, em 2011, representaram 0,9% das exportações nacionais (0,6% em 2010, fonte INE).